O Professor Xavier Melo, doutorado em Atividade Física e Saúde pela Faculdade de Motricidade Humana – Universidade de Lisboa, combina atualmente o papel de Docente do Ensino Superior e de Investigador Cientifico. Na Clínica das Conchas será um dos formadores que irá lecionar na 1ª edição do Curso de  Avaliação Funcional e Prescrição de Exercício Físico na 3ª Idade. Nesta entrevista fala-nos da tendência atual em Portugal e quais as medidas a adotar no envelhecimento. 

 
Formação Clínica das Conchas - Em termos demográficos como é que se encontra a tendência atual em Portugal?
 
XM - A situação demográfica em Portugal continua a caracterizar-se pelo decréscimo da população residente, apesar do aumento da natalidade e da imigração, e do decréscimo da emigração. O declínio populacional mantém-se desde 2010, embora se tenha atenuado nos dois últimos anos. Registou-se um ligeiro aumento do número de nascimentos, pela primeira vez desde 2010 e a esperança de vida à nascença foi estimada em 80.41 anos [1]. No entanto, Portugal está longe da renovação de gerações e as projeções mostram que a população vai continuar a diminuir a uma taxa de crescimento efetivo de -0,32% (-0,50% em 2014) [1].
Há muito que a Europa está a envelhecer. Os últimos números mostram que as múltiplos fontes de declínio e envelhecimento populacionais estão-se a agudizar por toda a Europa[2]. Entre os oito países projetados para sofrerem as maiores reduções de população, três são membros da União Europeia: Roménia, Polónia e Espanha. Dos 10 países com taxas de natalidade mais baixas do mundo, a Europa ocupa sete pontos. A imigração poderá atenuar estes efeitos.Em Portugal observou-se um aumento do número de imigrantes e uma diminuição do número de emigrantes, uma recuperação do saldo, mas ainda assim negativo (-10481), uma vez que o número de imigrantes continuou a ser inferior ao de emigrantes.
 
Formação Clínica das Conchas - Que atitude deverá existir na sociedade relativamento a este envelhecimento da população? Que medidas adotar?
XM - A diminuição da população é uma ameaça séria às finanças públicas portuguesas e mundiais, e é preciso ação política no curto prazo, tendo em conta que o país já enfrenta mudanças demográficas adversas. Num relatório sobre os impactos adversos do desenvolvimento demográfico em Portugal, o Fundo Monetário Internacional refere que a despesa pública relacionada com o envelhecimento poderá aumentar mais de sete pontos percentuais do Produto Interno Bruto e a dívida pública tornar-se-á insustentável [3] impulsionada pelos gastos com a saúde. Os gastos com pensões aumentarão no curto prazo, porque as reformas mais recentes protegeram os atuais reformados, adiando para os futuros aposentados um ajustamento acentuado.
 
Neste cenário, torna-se impossível não falar de incentivos à natalidade, para reduzir o rácio de dependência das pessoas mais velhas, apesar de na Europa este tipo de medidas ter tido até agora um impacto limitado. Aumentar os fluxos migratórios para Portugal (incluindo portugueses da diáspora) é outro dos aspetos salientado pelo Fundo Monetário Internacional para contrariar a tendência de diminuição da população. Para travar os gastos relacionados com o envelhecimento, as propostas são incentivar a participação das mulheres e da população mais velha no mercado de trabalho, como formas de aumentar o Produto Interno Bruto e reduzir os custos com subsídios de desemprego.
Uma das maiores realizações da era moderna - um aumento quase global e sustentado da esperança média de vida - representa em simultâneo um risco para a sociedade civil e é emblemático da complexidade do mundo moderno. Este paradoxo é prova da necessidade de uma ação comprometida por todas as partes interessadas, se quisermos evitar grandes impactos políticos, económicos e sociais, e alcançar objetivos tão fundamentais como ser SAUDÁVEL, ATIVO e AUTÓNOMO [4]:
1. Adotar a nova realidade do envelhecimento: Investir nos idosos, para que possam continuar a aprender e a contribuir para a sociedade; repensar as práticas empresariais para facilitar a participação dos trabalhadores mais velhos; e reforma dos sistemas de pensões e de saúde para melhor responder às necessidades das pessoas idosas.
 
2. Compromisso ao mais alto nível: O compromisso com uma sociedade amiga do idoso requer respostas políticas das mais altas estruturas de tomada de decisão.
 
3. Ação precoce e rápida: Muitas respostas políticas exigem prazos muito longos para a conceção e implementação, ultrapassando largamente os mandatos dos governos atuais ou dos principais executivos.
 
4. Mudanças sociais, políticas e económicas em todos os níveis: Por exemplo, a conceção urbana, compatível com as diferentes idades e a fixação de idades legais de reforma são questões nacionais. O conceito de direitos humanos para os idosos é uma preocupação internacional. Da mesma forma, a migração é uma questão bilateral e multilateral.
 
5. Melhor utilização dos recursos existentes e adoção de novas tecnologias: Podemos ajudar as pessoas a permanecerem ativas, saudáveis e autónomas através da alteração para estilos de vida saudáveis, a transformação de cidades para versões mais amigas do idoso (imagine por exemplo o risco imposto por uma calçada portuguesa com declive negativo e molhada pela chuva, ou por carris de elétricos que atravessam passadeiras e estão inutilizados há anos) e de "casas inteligentes" que implantem uma gama de dispositivos de monitorização e apoio para ajudar os idosos a gerir a vida com mais eficiência. Podemos redesenhar os sistemas de saúde para se concentrarem na prevenção de doenças e rastreio precoce, em vez de uma intervenção cara. Com estas medidas, contribuiremos para a criação de melhores condições de vida para as pessoas idosas: vidas também inclusivas e sustentáveis.
 
Referências bibliográficas:
1. Instituto Nacional de Estatística, Estatísticas Demográficas - 2015. 2016: Lisboa-Portugal.
2. Population Reference Bureau, 2016 World Population Data Sheet. 2016: Washington, DC-USA.
3. International Monetary Fund, Portugal - Selected Issues - IMF Country Report No. 16/301. 2016: Washington, D.C. - USA.
4. World Economic Forum, Global Population Ageing:  Peril or Promise? 2012: Geneva - Switzerland.
 
 
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