Os pacientes com cancro que praticam atividade física antes e depois do tratamento têm 40% mais probabilidade de sobreviver ao cancro em comparação com os sedentários, de acordo com novas pesquisas.
 
 
A associação entre atividade física e mortalidade foi estudada em oito tipos de cancro, sendo importante referir que os resultados mantiveram-se após segmentação por sexo, estágio do canco, status de tabagismo e índice de massa corporal (IMC).
 
Os resultados do estudo foram apresentados no recente encontro anual de 2018 da American Association for Cancer Research (AACR).
 
"Mesmo que a associação só tenha sido observada em oito tipos de cancro, a hazard ratio (HR) foi inferior a 1 em quase todas as localizações do tumor que estudámos. Do ponto de vista prático, parece que há benefícios para todos os tipos de cancros", referiu a primeira autora Rikki Cannioto, PhD, professora-assistente de oncologia no Departamento de Prevenção e Controlo do Cancro no Roswell Park Comprehensive Cancer Center, em Buffalo, Nova York (EUA).
 
"Podemos não ter tido significância estatística suficiente para ver significado em todos, mas a mensagem mais importante é que existe benefício para todos os pacientes com cancro".
 
O mais importante, observou Rikki, foi o aumento da taxa de sobrevivência entre os pacientes que eram previamente sedentários.
 
"Os pacientes que referiram não fazer nenhum tipo de atividade física na década anterior ao diagnóstico, e depois informaram fazer alguma atividade física no período do diagnóstico e após o mesmo, tiveram uma melhoria impressionante de 25% a 28% da sobrevivência em comparação com os que continuaram inativos" disse a autora. "Constatamos que a atividade física iniciada após o diagnóstico é benéfica".
 
“A mensagem é que nunca é tarde demais para começar a se exercitar. “
 
A atividade física apresenta inúmeros benefícios para os pacientes com cancro, como a melhoria da força muscular, do funcionamento cardiovascular e da qualidade de vida. Alguns dados sugerem que a sua prática pode conferir um benefício ao longo do tratamento.
 
Um recente estudo, por exemplo, verificou que entre os pacientes com cancro de cólon de estágio III cujo estilo de vida foi considerado como correspondendo às diretrizes da American Cancer Society em termos de alimentação e exercício físico, houve um risco relativo de morte 42% mais baixo.
 
Neste estudo, Rikki e os seus colaboradores examinaram as associações conjuntas da atividade física antes e depois do diagnóstico e da mortalidade de 5.807 pacientes com diagnóstico de cancro no Roswell Park Comprehensive Cancer Center, de 2003 a 2016.
 
O estudo teve mais de mulheres (54,8%) do que de homens (45,2%) e a média de idade no momento do diagnóstico era de 60,6 anos. Os diagnósticos foram o cancro da bexiga, mama, cabeça e pescoço, rim, fígado, pulmão, ovário, pâncreas, próstata, pele e estômago, bem como colorretal, esofágico, e neoplasias do endométrio e hematológicas.
 
Nesta população, 25% referiram não praticar atividade física regular antes do diagnóstico; 42% informaram não praticar atividade física de lazer regular após o diagnóstico. Em relação ao status de atividade física habitual, 52% disseram serem habitualmente ativos, 19% declararam serem habitualmente inativos, 23% contaram ter tido redução da atividade física após o diagnóstico, e 6% descreveram aumento da atividade física após o diagnóstico.
 
Pela análise multivariada, a maior vantagem da recuperação foi observada entre os pacientes que se exercitaram três a quatro dias por semana antes do diagnóstico (HR = 0,66; P < 0,001) e três a quatro dias por semana após o diagnóstico (HR = 0,59; P < 0,001). A taxa de sobrevivência foi praticamente a mesma para os pacientes que se exercitaram entre um a dois dias por semana, tanto antes do diagnóstico (HR =  0,77; P < 0,001) como depois do diagnóstico (HR =  0,72; P < 0,001), e para aqueles que se exercitaram de cinco a sete dias por semana, tanto antes (HR =  0,76; P < 0,001) como depois do diagnóstico (HR =  0,73, P < 0,001).
 
Esta foi outra descoberta muito importante, comentou Rikki. "Os pacientes que se exercitaram um a dois dias por semana tiveram uma taxa de sobrevivência quase idêntica à dos que se exercitaram com mais frequência – cinco a sete vezes por semana", disse a pesquisadora.
 
"Os pacientes que se exercitaram de três a quatro dias por semana tiveram o melhor desempenho, mas a principal mensagem é que a prática de exercício físico pouco frequente também foi associada a um benefício significativo na taxa de sobrevivência. Os pacientes que se exercitaram todos os dias não se saíram melhor".
 
Estas conclusões foram corroboradas por outras pesquisas. A pesquisadora mencionou um estudo recente sobre "atletas de fim de semana", e descobriu que entre as pessoas que praticavam exercício físico apenas uma ou duas vezes por semana, o risco de mortalidade por qualquer causa e de morte por doença cardiovascular ou cancro foi menor do que para os pacientes que nunca praticaram exercício físico.
 
"Isto é particularmente encorajador, já que os pacientes com cancro e os sobreviventes de cancro podem sentir-se sobrecarregados pelas atuais recomendações de atividade física", disse a autora.
 
Também na análise multivariada o risco de mortalidade foi 40% menor para os pacientes que se mantinham habitualmente ativos em comparação aos pacientes inativos (HR = 0,60; intervalo de confiança, IC, de 95%, de 0,54 a 0,68). 
 
Quando os pacientes que eram habitualmente ativos foram considerados como grupo de referência, o risco de mortalidade foi 66% mais alto entre os pacientes inativos (HR = 1,66; IC de 95%, de 1,48 a 1,87).
 
Os pacientes que aumentaram a frequência de prática de atividade física após o diagnóstico apresentaram redução do risco de mortalidade de 25% (razão de risco = 0,75, IC de 95% de 0,61 a 0,92) em comparação aos que permaneceram inativos.
 
 
 
A opinião dos especialistas
 
Dois especialistas opinaram sobre os resultados.
 
 
Brian C. Focht, PhD, professor de cinesiologia e diretor da Exercise Behavioral Medicine Laboratory do Department of Human Sciences no College of Education and Human Ecology da Ohio State University em Columbus (EUA), referiu que este estudo apresenta fortes evidências epidemiológicas dos benefícios da atividade física para os pacientes com cancro.
 
"O estudo traz uma contribuição significativa para o progresso da literatura científica que respalda o valor da implementação do exercício físico e/ou da atividade física no tratamento dos pacientes com cancro", disse o especialista.
 
"À medida que esses tipos de provas se acumulam, tenho a esperança de que os oncologistas continuem a abraçar cada vez mais a importância de recomendar e promover ativamente as mudanças de estilo de vida em termos de atividade física, exercício físico e hábitos alimentares saudáveis aos seus pacientes e ao que recuperaram de um cancro", referiu Focht.
 
O especialista destacou que "um desafio imenso" é o fato de as melhores práticas de conduta para integrar as intervenções de estilo de vida ao tratamento do cancro ainda não terem sido estabelecidas.
 
"No entanto, como as provas continuam a aparecer, torna-se cada vez mais claro que a promoção de mudanças saudáveis de estilo de vida em termos de exercício físico, prática de atividade física e alimentação, são considerações importantes na promoção de melhores resultados clínicos e de qualidade de vida, fundamentais para o controlo do cancro", acrescentou.
 
 
 
Erin L. Van Blarigan, professora-assistente do Department of Epidemiology and Biostatistics da University of California em San Francisco (EUA), também concordou que esses dados acrescentam ainda mais evidências para corroborar a "associação muito forte e sistemática observada entre atividade física e sobrevivência nas pessoas com cancro".
 
"A pesquisa mostrou que receber aconselhamento do oncologista sobre o estilo de vida, para muitos pacientes é um poderoso fator mptivacional para aplicar essas mudanças mas, infelizmente, esta não é uma prática comum em muitos consultórios", disse a especialista, acrescentando que tanto a American Cancer Society quanto o American College of Sports Medicine publicaram diretrizes específicas para sobreviventes de cancro, que contêm os tipos e a quantidade de atividade física que os pacientes devem ter como meta.
 
"Há pesquisas em andamento para determinar quais ferramentas ou recursos, como rastreadores de atividade física, sites e aplicações, podem ajudar a estimular os pacientes com cancro a iniciar e manter um novo programa de exercício físico", disse Erin.
 
Fonte: Medscape
 
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