Xavier Melo será um dos formadores do curso "Avaliação Funcional e Prescrição Físico na 3ª idade"

 
 
 
Doutor em Atividade Física e Saúde pela Faculdade de Motricidade Humana - Universidade de Lisboa (FMH-UL), Xavier Melo é Professor Assistente Convidado na Escola Superior de Desporto de Rio Maior - Instituto Politécnico de Santarém e Assessor Técnico-Científico do Ginásio Clube Português (GCP).
 
 
 
Formação Clínica das Conchas - Apresentou o GCP Lab em Abril, no 8º Seminário Desporto, Saúde e Cidadania organizado pelo Ginásio Clube Português (GCP). É um centro científico de inovação e colaboração entre investigadores, profissionais de saúde, treinadores e fisiologistas do exercício, visando dar respostas às necessidades levantadas tanto pelo Departamento de Treino Desportivo, como pelo Departamento de Exercício e Saúde. No respeitante ao envelhecimento ativo, pode apresentar-nos algumas linhas de investigação pensadas no GCP Lab?
 
Xavier Melo - O envelhecimento está associado ao declínio fisiológico. Para retardar ou reverter esse declínio, os humanos têm procurado por várias "fontes da juventude" desde o início da história. Mais recentemente, o envelhecimento tornou-se medicalizado e intervenções, como a restrição calórica, células estaminais, terapia hormonal antienvelhecimento, antioxidantes e ativação de vias bioquímicas específicas, como as sirtuínas, têm sido aceites como possíveis intervenções terapêuticas para retardar o processo de envelhecimento. Frequentemente negligenciados, ignorados ou simplesmente tomados como certos são os poderosos efeitos antienvelhecimento da atividade física ao longo da vida e do exercício físico. Resultante das impressionantes taxas de retenção de praticantes do GCP, que se mantêm fisicamente ativos alguns por mais de 70 anos fazendo usufruto das inúmeras atividades físicas e desportivas especializadas que ali são oferecidas, o GCP Lab tem a oportunidade de relatar a aptidão física em pessoas que treinaram e permaneceram fisicamente ativos ao longo do seu trajeto de vida. Tais dados são deveras importantes, uma vez que a aptidão aeróbia não é só um forte preditor de risco de mortalidade por todas as causas e por doença cardiovascular, como valores de aptidão aeróbia entre 15-20 mL.Kg-1.min-1 são preditores da independência funcional.
 
Também é especialmente interessante estudar se estes praticantes masters realizam mais passos por dia comparativamente com os seus colegas sedentários, de modo que o tempo gasto em exercício físico de intensidade moderada a vigorosa não substitua simplesmente as atividades diárias.
 
Concordamos que é razoável antecipar que até 50% da diferença na aptidão aeróbia esperada entre atletas masters vs. controlos possa ter origem na sua aptidão aeróbia inicial [5]. A verificar-se, a implicação prática é que se todos os homens fossem fisicamente ativos e praticassem exercício físico ao longo da sua vida, os valores de aptidão aeróbia determinados em homens entre 70-80 anos poderiam estar entre 25-30 mL.Kg-1.min-1. Essa faixa garantiria que a maioria das pessoas tivesse a capacidade fisiológica de permanecer independente até idades muito avançadas. Ajudaria também a equilibrar as curvas de incapacidade e mortalidade, de modo que as pessoas vivessem vidas produtivas e morressem após um período limitado de incapacidade. O laboratório do GCP pode então contribuir de forma relevante para a literatura científica.
 
Outra linha de investigação interessante é estudar como estas pessoas permanecem motivadas para a prática de exercício físico à medida que envelhecem? Este é certamente um tópico complexo com explicações que vão desde as vias sociológicas e ambientais, até às vias centrais de dopamina nos centros de recompensa do cérebro.
 
O GCP Lab também está interessado em estudar que outros benefícios resultam da prática de exercício físico em idosos? Está agora bem documentado que a aptidão aeróbia está associada com a função cognitiva e de aprendizagem [6]. Em adição, idosos com elevada aptidão aeróbia têm um hipocampo com maior volume e melhor memória espacial, proporcionando proteção suplementar contra o declínio do volume cerebral associado à idade [7]. Portanto, não só os atletas masters têm menor risco de mortalidade cardiovascular, como provavelmente têm menor risco de demência e doença de Alzheimer, aumentando a probabilidade de prolongar a sua qualidade de vida. Já para não falar que elevados níveis de aptidão aeróbia parecem diminuir os fatores de risco para mortalidade por todas as causas e por doenças cardiovasculares [8].
 
Há ainda muito pouca informação em mulheres idosas com boa capacidade aeróbia, e será interessante analisar se os benefícios observados em atletas masters masculinos também são observados em idosas expostas a oportunidades desportivas e de treino aumentadas. Grande parte do declínio da aptidão aeróbia associado à idade é atribuído à perda de massa muscular [9]. Também será interessante estudar os efeitos do exercício físico praticado ao longo da vida na sarcopenia e osteoporose tipicamente aceleradas após a menopausa.
 
O Sistema Nacional de Saúde será sobrecarregado por vagas sucessivas de doenças crónicas associadas aos estilos de vida e por incapacidade em sociedades crescentemente envelhecidas. O GCP Lab apresentará evidências científicas de que este não é o nosso destino fisiológico, mas uma questão de escolhas feitas individual e coletivamente. Se quiser ser saudável e independente até aos 80 anos, a chave é manter-me em forma e saudável durante toda a vida. Como assinalou Mark Twain: “a vida seria infinitamente mais feliz se pudéssemos nascer apenas aos 80 anos e gradualmente aproximarmo-nos dos 18 anos”. 
 
 
Referências Bibliográficas
 
  1. Trappe, S., et al., New records in aerobic power among octogenarian lifelong endurance athletes. J Appl Physiol, 2013. 114(1): p. 3-10.
  2. Holzschneider, K., et al., Cardiovascular fitness modulates brain activation associated with spatial learning. Neuroimage, 2012. 59(3): p. 3003-14.
  3. Erickson, K.I., et al., Aerobic fitness is associated with hippocampal volume in elderly humans. Hippocampus, 2009. 19(10): p. 1030-9.
  4. Blair, S.N., et al., Influences of cardiorespiratory fitness and other precursors on cardiovascular disease and all-cause mortality in men and women. JAMA, 1996. 276(3): p. 205-10.
  5. Fleg, J.L. and E.G. Lakatta, Role of muscle loss in the age-associated reduction in VO2 max. J Appl Physiol (1985), 1988. 65(3): p. 1147-51.
 
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