Cada profissional de saúde tem realmente um papel fundamental em cada uma das fases da Reabilitação Cardíaca e deve estar qualificado para exercer as suas respetivas funções. 

 
A formadora Rita Pinto irá lecionar, juntamente com Jorge A. Ruivo e Ana Adegas, o Curso Avançado Instrutor de Reabilitação Cardíaca
 
Para além de ser Doutoranda em Atividade Física e Saúde e Instrutora especializada em Reabilitação Cardíaca nível 4 pelo British Association of Cardiovascular Prevention and Rehabilitation (BACPR) no Reino Unido, Rita Pinto é detentora de uma Licenciatura em Ciências do Desporto, Mestrado em Exercício e Saúde e Pós-Graduação em Reabilitação Cardíaca pela Faculdade de Motricidade Humana. 
 
Atualmente exerce funções no Hospital Pulido Valente enquanto Fisiologista do Exercício na Avaliação de Pessoas com Doenças Cardiovasculares e no Centro de Reabilitação Cardiovascular da Universidade de Lisboa enquanto Fisiologista do Exercício. 
 
Ao longo da entrevista, Rita Pinto fez uma análise do panorama da reabilitação cardíaca em Portugal, falou-nos da importância que a formação apresenta como garantia de uma intervenção de qualidade em torno da população com doença cardíaca e confidenciou-nos alguns projetos para a época 2018-2019.
 
 
FORMAÇÃO Clínica das Conchas - Qual o panorama da reabilitação cardíaca em Portugal?
 
Rita Pinto - Em Portugal, apenas 8% dos doentes com enfarte do miocárdio participam num programa de reabilitação cardíaca1. Este valor, embora superior aos 3% identificados num inquérito nacional realizado em 2007, continua a ser inferior à média europeia2. A taxa média de participação europeia é superior a 30% e, em muitos países como o Reino Unido, Suécia, Luxemburgo e Alemanha, ultrapassam os 50%3.
 
A nível nacional, estes números são mais reduzidos devido a inúmeras barreiras identificadas nomeadamente a ausência de comparticipação deste tipo de programa pelo Sistema Nacional de Saúde, escassez e deficiente distribuição dos centros de reabilitação cardíaca, incompatibilidade entre os horários dos programas e os horários laborais, falta de referenciação médica, falta de informação ao doente, constrangimentos económicos, falta de motivação do doente e/ou de divulgação dos programas4.
 
A Reabilitação Cardíaca, definida como um processo pelo qual uma pessoa com doença cardiovascular recupera e mantém um ótimo nível fisiológico, psicológico, social, vocacional e emocional, tem vindo a ganhar terreno no Programa Nacional para as Doenças Cérebro-Cardiovasculares. Estes programas de reabilitação cardíaca para além de serem seguros e eficazes em pessoas com doença cardiovascular, também reduzem o risco de morte súbita ou de re-enfarte, controlam os sintomas cardiovasculares, estabilizam ou revertem o processo de aterosclerose e melhoram o estado psicológico e vocacional. As diretrizes tanto Europeias como Americanas recomendam a doentes com síndrome coronário agudo a possibilidade de escolha em aderir a um programa de reabilitação cardíaca de forma a reduzir os seus fatores de risco que, num futuro, poderá vir a ter impacto nas suas complicações cardiovasculares5.
 
No último inquérito nacional realizado no ano de 2013/2014 o volume de doentes em programas de Reabilitação Cardíaca e o número de centros aumentou consideravelmente em Portugal. Entre 2007 e 2016 o número de centros de Reabilitação Cardíaca aumentou de 16 para 26 (15 públicos e 11 privados)6. 
 
Concluindo, a Reabilitação Cardíaca tem vindo a evoluir de forma sólida e de acordo com as recomendações internacionais. O facto de estar inserido atualmente no programa nacional para as doenças cérebro-cardiovasculares da Direção Geral de Saúde - “Desenvolver Programas de promoção da prevenção, tratamento e reabilitação das doenças cérebro e cardiovasculares com particular incidência em áreas consideradas prioritárias”, Despacho nº 7433/2016 de 25 de maio, deverá ser feito um investimento maior na formação profissional e criação de mais programas de reabilitação cardíaca, levando a uma maior referenciação a nível nacional e, consecutivamente, a um aumento das taxas de participação nacional em Programas de Reabilitação Cardíaca.
 
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FORMAÇÃO Clínica das Conchas - Em termos formativos qual deverá ser a aposta para que cada vez mais os profissionais de Saúde tenham competências ótimas para intervenção na população com doença cardiovascular?
 
Rita Pinto - Antes de responder à pergunta, é fundamental, na minha opinião, perceber em primeiro lugar quem são os profissionais de saúde que estão na intervenção com este tipo de população. Para responder de forma fundamentada a esta questão, no passado mês de agosto 2017, a Sociedade Portuguesa de Cardiologia apresentou ao Secretário de Estado Adjunto e da Saúde o relatório que define os “Critérios Mínimos para Implementação de um Programa de Reabilitação Cardíaca em Portugal”. Esse documento tem como objetivo definir o que é considerado indispensável observar nos programas de Reabilitação Cardíaca como a estrutura do programa em si, definição e objetivos de cada uma das fases da Reabilitação Cardíaca, dentro de cada uma das fases qual a população alvo, quando iniciar, a constituição da equipa de profissionais de saúde, o local e equipamento necessários.
 
Com o aparecimento deste documento previamente mencionado, é de destacar que cada profissional de saúde tem realmente um papel fundamental em cada uma das fases da Reabilitação Cardíaca e deve estar qualificado para exercer as suas respetivas funções. 
 
Assim, o tipo de formação que estes profissionais de saúde devem ter para que tenham competências ótimas para intervir com uma população clínica com doença cardiovascular, na minha opinião, deverá ser distinta e especializada. Ou seja, por um lado, ter a licenciatura de base da respetiva área de intervenção/profissional (medicina, fisioterapia, ciências do desporto, psicologia, enfermagem, nutrição). Ainda, dependendo da área profissional, uma especialização graduada (Mestrado) dirigida para a população clínica. Por exemplo, para o fisiologista do exercício, para além de uma licenciatura em ciências do desporto, a obtenção de um mestrado que aborde populações clínicas (Mestrado em Exercício e Saúde, por exemplo). Por outro, ter uma especialização em Reabilitação Cardíaca, de forma a que haja uma atualização constante de conhecimento prático e teórico, através de formações credenciadas por ECTS ou pós graduações. Por fim, a presença e participação ativa em congressos e reuniões de calibre nacional e internacional constitui uma mais valia para complementar a formação académica e constante aprendizagem.
 
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FORMAÇÃO Clínica das Conchas - Que projetos para a época de 2018-19?
 
Rita Pinto - Atualmente encontro-me a tirar o meu Doutoramento em Motricidade Humana na área de Atividade Física e Saúde na Faculdade de Motricidade Humana – Universidade de Lisboa com um foco muito específico na área da Reabilitação Cardíaca. Em maio de 2016, foi fundado o Centro de Reabilitação Cardiovascular da Universidade de Lisboa (CRECUL) dando sobretudo apoio ao nível da formação curricular e académica, da investigação científica e da comunidade. Desde o início do CRECUL tenho vindo a desenvolver o meu projeto de doutoramento com o título “The Effect Of An Expanded Long Term Periodization Exercise Training In Patients With Cardiovascular Disease: Central And Peripheral Adaptations”. Com este projeto, é pretendido verificar os efeitos a longo prazo (>6meses) de dois tipos de protocolos de exercício, periodizado vs não periodizado, nas adaptações centrais e periféricas em pessoas com doença cardiovascular. Assim, o meu projeto major para a época de 2017-18 é finalizar a recolha de dados, analisar e apresentar o meu doutoramento até ao final do ano 2018.
 
Para além deste projeto major, é importante manter um constante contato direto com a comunidade científica tanto a nível nacional como internacional. A presença e participação ativa em congressos e reuniões da minha área de estudo são fundamentais. A colaboração em projetos de investigação bem como exercer quer um papel de formadora quer de formanda são desafios que se encontram constantemente no meu crescimento académico e profissional. 
 
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Referências Bibliográficas:
 
1. Silveira C, Abreu A. Cardiac rehabilitation in Portugal: Results from the 2013-14 national survey. Revista Portuguesa de Cardiologia. 2016:659-668.
2. Teixeira M, Sampaio F, Brizida L, Mendes M. Cardiac rehabilitation in Portugal--developments between 1998 and 2004. Rev Port Cardiol. 2007;26(9):815-825.
3. Bjarnason-Wehrens B, McGee H, Zwisler AD, et al. Cardiac rehabilitation in Europe: results from the European Cardiac Rehabilitation Inventory Survey. Eur J Cardiovasc Prev Rehabil. 2010;17(4):410-418.
4. Evangelista R. Prevention & Rehabilitation Association (EACPR) of the European Society of Cardiology: Country report Portugal - February 2015. 2015.
5. Piepoli MF, Hoes AW, Agewall S, et al. 2016 European Guidelines on cardiovascular disease prevention in clinical practice: The Sixth Joint Task Force of the European Society of Cardiology and Other Societies on Cardiovascular Disease Prevention in Clinical Practice (constituted by representatives of 10 societies and by invited experts)Developed with the special contribution of the European Association for Cardiovascular Prevention & Rehabilitation (EACPR). Eur Heart J. 2016;37(29):2315-2381.
6. Mendes M. Cardiac rehabilitation in Portugal: The situation in 2013-2014. Rev Port Cardiol. 2016;35(12):669-671.
 
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